Esta é uma dúvida que muitas
pessoas têm e uma frase que nós da área psi sempre ouvimos logo que conhecemos
alguém, seja na rua, na balada, no supermercado, na sala de espera do médico, "na
chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapê”: “Você está me analisando?”. Em
geral, as pessoas ficam deconcertadas quando descobrem nossa profissão, porque
pensam que nós analisaremos cada palavra que disserem. Nem todas as palavras,
mas ah, nós pensamos coisas sim. Pronto, falei. Vou dar uma de Mister M.
Quando digo que “pensamos
coisas", não quero dizer que estamos julgando ou qualquer coisa do tipo.
Mas pensem bem, isso é o que fazemos (ao menos quem trabalha exclusivamente com
a clínica) o dia todo, todos os dias, inclusive finais de semanas e feriados.
Estamos acostumados a ouvir histórias de pacientes e servir de objeto causa de
desejo, para o qual eles endereçam suas transferências, inclusive nos enlaçam
em seus sintomas, sonham conosco, etc. Não sem enganem, os psicanalistas pensam
psicanaliticamente. O que não quer dizer que ficamos o tempo todo queimando a
mufa com todas as pessoas com quem nos relacionamos. Se meu paciente repete
algo na transferência incessantemente, como, por exemplo, me chamar pelo nome
do seu ex-analista, eu preciso tentar entender, junto com ele, o que está acontecendo,
mas se o pintor que veio na minha casa prestar um serviço me chama pelo nome de
outra cliente, sério, eu só vou sorrir e acenar.
E quanto aos amigos? Claro
que sabemos também ser bons amigos, mas...você não conversará com um amigo
psicanalista, desabafará com ele e contará o quanto as coisas se repetem com
você e o quanto tem o dedo podre para namorados ou trabalhos ou qualquer coisa
que seja, sem que seu amigo psicanalista te lance a pergunta freudiana: “qual é
a sua participação na desordem da qual você se queixa?”. Se ele não te
perguntar isso, é porque não é um bom amigo. Essa pergunta é algo de leve, só
para que faça você pensar e, talvez, inverter a ordem das coisas, na verdade
queremos dizer: "é o mundo que conspira contra, ou será que tem algo que
você possa mudar na sua relação com a forma como goza disso?" Mas esta já
seria uma pergunta hard, que rola somente fazer para amigos que já conseguimos
enviar para análise. É claro que não ficamos o tempo todo interpretando tudo o
que um amigo fala, seria insuportável.
Se você tem um amigo
psicanalista, considere-se uma pessoa de sorte, porque ele te fará perguntas despretensiosas
que te ajudarão a pensar melhor no que está fazendo para viver melhor. E se
você já faz análise, pense que este amigo pode ser um bom interlocutor nos
intervalos entre uma sessão e outra, totalmente grátis. Agora, ser psicanalista
e ter amigos psicanalistas é como estar no paraíso, porque você pode falar
todas as besteiras que quiser sem ser julgado e pode, ainda, contar as merdas
que você faz sem precisar explicar a teoria. É absolutamente maravilhoso e
terapêutico um encontro entre amigos psicanalistas. Vamos da fase oral ao falo,
passando pelo gozo e ascendemos ao desejo como se nada.
Então, será que seu amigo
psicanalista fica te analisando? Se você pedir bem com carinho uma opinião,
certamente ele te responderá a partir de seu pensar psicanalítico, não como se
fosse seu analista (isso é impossível), mas como um amigo que só quer o melhor
para você.
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