A leitura que me orientou foi a das referências e das
coisas não ditas, tão somente sugeridas pelo narrador: um Camilo Castelo Branco
com seus amores, ora de perdição, ora de salvação; uma folha flanando no
parque, açodada pelo vento como no filme Beleza
americana, contado por um sujeito de meia idade que redescobre o desejo
pela vida próximo da morte; saber que nem todos os ditos loucos que passam por
processo de educação para arte serão um Bispo do Rosário.
No entanto, mais do que isso, foi a descoberta de que
aquilo que usual e inadvertidamente se chama de loucura é um excesso de dor, de
sofrimento, que precisa das palavras para que, oferecendo-se aos sentidos do
outro, seja (su)portada, (trans)formada, adquirindo, quem sabe, seus primórdios
de desejo.
O próprio protagonista desta Nau, Inácio, percebe isso quando, retornado de suas andanças
físicas ou não, escreve não somente um romance, mas sobretudo o bilhete final
para Diana, alcunhada de “a caçadora”, caçada por ele durante 20 anos de sua
vida.
O romance de Isloany Machado é um belo exemplar de
história de amor, de desejo e de loucura, guardada sob as asas de um olhar
aparentemente esvaziado e morto de alguém que atende pelo nome de Custódia.
Rosana Zanelatto - Docente do curso de Letras na UFMS
Rosana Zanelatto - Docente do curso de Letras na UFMS
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