Campo Grande, 10 de abril de 2017.
Querido Antonio,
Há sete anos você foi meu professor de Direitos Humanos e
já era possível perceber sua sensibilidade, mas o romance me surpreendeu,
muito. Não porque eu não te imaginasse capaz de escrevê-lo, mas porque essa
poesia é tão rara...
Tekoha chegou em boa hora, pois, coincidentemente estou
revisando uma dissertação de antropologia que me fez ler os termos indígenas
com uma grande familiaridade. Fiquei pensando no quanto sua formação, mas
sobretudo sua vivência, te influenciou na escrita deste romance. É uma escrita
de dentro, de quem viu, e não de quem só ficou sabendo do assunto.
Achei linda a forma como você fala desse “sobrenatural”
da cultura indígena, algo tão desvalorizado pela nossa sociedade embrutecida,
enceguecida pelo dinheiro, pela produção, pela utilidade das coisas (aqui se incluem
as pessoas). Se não serve pra nada, se não produz, pode/deve ser descartado. É uma
lógica que não entra na minha cabeça. Faço e refaço as contas, mas confesso que
não consigo entender. Será que nós estamos errados em nossos gritos de defesa
pelos indígenas, pelos loucos? Às vezes parece que perco a voz.
Seu romance me emocionou muito, pela beleza, mas também
pela crueza de uma verdade que me parece tão difícil de engolir. Às vezes o
amor nos parece tão potente que poderia vencer qualquer coisa, mas há aspectos
dessa (des)humanidade que parecem invencíveis. A força bruta despedaça as
delicadas pétalas do amor. Porque este é como a arte, a literatura: só podem
ser um grito contrário a essa ordem maluca das coisas. Nem sempre vencemos,
quase nunca vencemos. Mas sua história me fez pensar que há uma pureza que
seguirá indestrutível.
Seu casal, à la Romeu e Julieta, a-morte-cidos de amor e
dor. Chorei muito pela perda da inocência. Essa perda é de cada um de nós. Seu urubu,
companheiro da velha, me soou como o corvo de Poe, com seus tristes ais. Nunca mais
olharei uma fuligem como uma fuligem, para sempre será uma borboleta negra
morta e sem destino. Obrigada pela poesia desta metáfora.
Quanto ao karaí (homem branco), eu queria ser o urubu, apesar de,
estranhamente (no sentido do “estranho” freudiano) ter sentido uma pitada de
captura pela força do desejo dele pela menina. Somos estranhos de nós mesmos. Não
posso dizer porque queria ser o urubu para que esse texto não seja spoiler, mas
você entenderá meus motivos.
Você toca também em um assunto delicado, que é o decidir
morrer, tão mal ou pouco falado em todos os cantos. Mas que não é tão
incompreensível algumas vezes. Veja, naquele ataque químico sofrido pela Síria,
vi a reportagem de um homem que enterrou 25 pessoas da família. Você ia querer
continuar vivo? E quanto aos sobreviventes do holocausto? É possível continuar
vivendo quando já se está morto há muito tempo? A velha, como um tronco de
árvore, tinha a seiva vinda da menina, assim como Itakara. Isso é o amor, é
fazer laços.
Me emocionou muito a parte em que Xiru Mingué não sabe
mais quem é sob os olhos e as palavras do karaí. Chorei muito, porque me dói a
redução de um sujeito a nada, a um resto, a coisa nenhuma. É assim que nossa
sociedade tem tratado os indígenas (não só eles), mas estão aqui do lado. Quando
você (ou seu narrador) descrevia Narã Poty, parece que era de mim que estava
falando. Me dói a minha própria impotência.
Seu romance é lindo. Espero o próximo já.
Um abraço e parabéns,
Isloany
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