No
caminho que faço de ida e volta do trabalho tem um ponto que sempre atrai meus
olhos. É a casinha de um casal de araras, que fica no alto de um coqueiro. O dono
da casa em que fica esse coqueiro até construiu uma bela moradia para os dois. Pois
bem, sempre que passo por lá fico olhando pra ver se os dois estão do lado de
fora. Nem sempre estão. Mas esses dias eu vinha dirigindo e pensando em você,
no dia dos namorados, e em tudo que conquistamos juntos. Quando passei pela
casinha das araras tive um estalo e não consegui conter essas palavras. Pensei:
Por que elas vivem juntas? Por que, mesmo tendo asas para ir a qualquer lugar,
preferem estar ali? Voltei a pensar em nós. Há quantos anos? Estou perdendo as
contas. Doze?
E
como você conseguiu tecer esse ninho com tanta liberdade? Digo você porque sua essência
não mudou um centímetro e acho que só pessoas assim são capazes de construir
ninhos com tanta beleza. Esse lugar que você me deu permitiu que minhas
penugens ralas, que eu escondia por falta de amor próprio ou autoconfiança (sei
lá o nome disso), brotassem fortes, cada vez mais fortes, até o ponto de
aguentarem o peso do meu corpo e me levarem para onde eu quisesse ir. Voei abraçada
com as palavras. Eu poderia ir a qualquer lugar no mundo, mas só você faz com
que eu me sinta em casa. Me sinto assim quando estou debaixo das suas asas,
como a arara, aposto. Somos dois estranhos nos ninhos originais, tivemos que
construir o nosso. Dele já nasceu uma ararinha, que um dia voará para construir
outro ninho e seremos nós dois de novo e sempre. Quero que o tempo demore pra
passar.
Pra
mim você é grande pela forma como pensa, por saber que a vida só é boa nas
coisas pequenas. Que só vale à pena se, antes de trocar a coisa quebrada pela
nova, tentarmos consertar. Assim, a coisa velha, quebrada e depois consertada
tem muito mais graça, porque está remontada de nossas histórias e lembranças. Você
nem se dá conta do quanto isso é subversivo, do quanto você é subversivo e de
como suas asas são grandes.
Te
amo porque você gosta de plantas. Te amo porque você gosta de filmes. Te amo
porque você gosta de pipoca. Te amo porque você gosta de chá. Te amo porque você
quer mudar o mundo. Te amo porque sabe que pra mudar o mundo é preciso começar
pelo nosso quintal. Te amo por termos um filho. Te amo porque, pra ter um
filho, é preciso querer tê-lo. Te amo porque você esperou que eu o quisesse. Te
amo porque você é uma pessoa que brilha. Te amo porque seu brilho é de luz
própria. Te amo porque você está descobrindo, cada dia mais, o quanto os estereótipos
do que é “ser homem” são frágeis, ridículos e, por isso mesmo, desnecessários. Te
amo porque você faz café.
Dizem
que no amor não existem porquês. Eu discordo. Sei exatamente por que te amo, e
sei exatamente, porque te amo. É exatamente você quem eu sempre quis. De vez em
quando a gente encontra uma flor no meio do asfalto quente e infértil. Simplesmente
não dá pra seguir jornada ignorando a beleza da flor. Também não é possível
arrancá-la e levar com a gente, porque aí é morte certa. O que se faz é acampar
e passar a vida a contemplar o milagre de algo tão extraordinário que faz algum
sentido no meio do caos.
Isloany Machado, 08/06/2016
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