Se
eu não posso ver o inconsciente, se eu não posso localizá-lo, é porque ele não
existe.
Se
eu não vejo doentes mentais sendo tratados pior do que animais em verdadeiras
prisões, é porque eles não existem. Ah, esses mesmos que não existem, então é
sempre melhor tirá-los de nossas vistas.
Se
eu não vir as favelas do Rio tampando-as com painéis artísticos, elas não
existem.
Se
eu não vejo mulheres sendo estupradas por 30 homens, ou mais, isso não existe,
ainda que eu tenha uma filha que poderia ser uma delas.
Se
eu não vejo gente passando fome, nem a fome nem essa gente existem. Afinal de
contas meu armário está cheio.
Se
eu não vejo animais sendo cruelmente abusados em experimentos desnecessários,
eles não existem.
Se
eu não vejo gente doente, nem doenças nem gente que precisa de tratamento
existem.
Se
eu não vejo idosos sendo maltratados, eles não existem.
Se
eu não pensar em crise e trabalhar, a crise não existe, mas o trabalho sim,
existe e deveria ser de 80 horas semanais.
Se
eu não me queixar de dor, ela não existe.
Se
eu não falar, a palavra não existe.
Se
eu não vejo
Se
eu não
Se
eu
Se
$
Isso
é o que chamamos de desmentido, mecanismo típico do perverso. Eu vejo e em seguida nego, assim,
isso passa a não existir.
O
discurso “tolo” de um “cientista” chamado Ivan Izquierdo afeta não só
psicanalistas como todos os que brigam todos os dias pelos direitos daqueles
que nossa sociedade prefere não enxergar.
Lembremo-nos:
tudo o que preferimos fingir que não existe, insiste, persiste.
Isloany Machado, 17/07/2016