Há
muitos anos o livro de Gabriel García Marquez, O amor nos tempos do cólera, estava na minha lista de desejos. Como
estou ocupada com o tema do amor, “por acaso” o encontrei numa livraria e
comprei. Pelo que já tinha ouvido sobre ele, sabia que contava a história de
uma espera amorosa que durou cinquenta anos. É também, mas é muito muito mais.
Este é o terceiro livro de Gabo que leio e fui invadida de novo por um grande
encantamento pela forma como ele faz uso das palavras. Memória de minhas putas tristes, Cem anos de solidão e O amor
nos tempos do cólera. Todos eles são lindos, mas este terceiro é de uma
delicadeza palavrética que me invadiu e tomou minha cabeça desde que comecei a
lê-lo.
Os
temas principais são o amor, a velhice, a morte, o desamparo, o sexo, a
passagem do tempo. E eu fiquei pensando como o amor pode suscitar tantos
questionamentos? Há o amor secular de Florentino Ariza por Fermina Daza, uma
espera longa, mas não romantizada. Ele a ama, mas ela se casa com outro. Ele
continua amando e se dá conta de que o marido terá primeiro que morrer para que
ela possa ser dele. E quando o marido morre, Florentino tem que conquistar essa
mulher, que na verdade logo cedo percebe que nunca o amou. Mesmo com essa
espera, Florentino conhece outras mulheres, tem casos e casos. Uma delas, Leona
Cassiani, é a verdadeira mulher da sua vida, mas uma com quem ele nunca se
relacionou. E percebe que se pode amar uma mulher sem ir pra cama com ela.
E
quanto ao amor conjugal? Num casamento de cinquenta anos, Fermina Daza e
Juvenal Urbino não sabem se o que viveram foi um amor, mas preferiram nunca
fazer essa pergunta, por medo da resposta. E depois que ele morre ela pensa: “É
incrível como se pode ser tão feliz durante tantos anos, no meio de tanto
bate-boca, tantas chateações, porra, sem saber de verdade se isso é amor ou
não”. Juntos perceberam que não existe nada nesse mundo mais difícil do que o
amor.
A
passagem do tempo, a chegada da velhice e o hálito da morte, cada vez mais
próximo são questionamentos muito presentes. Sobre Juvenal Urbino: “Aos oitenta
e um anos tinha bastante lucidez para perceber que estava preso a este mundo
por uns fiapos tênues que podiam se romper sem dor com uma simples mudança de
posição durante o sono, e se fazia o possível para preservá-los era pelo terror
de não encontrar Deus na escuridão da morte”. E de fato, os fiapos da vida dele
se rompem de forma bastante banal: cai da escada ao tentar pegar um papagaio
que estava fugido.
Amor,
desejo, sexo, morte, desamparo, velhice, passagem do tempo. Tudo isso escrito
de um jeito tão lindo, mas tão lindo que já faz uma semana que terminei de ler
e ainda estou andando com ele debaixo do braço. Não sabia o que fazer para
colocá-lo na estante e iniciar o próximo da fila. As palavras reverberando na
minha cabeça, pareciam ter invadido meu sangue. Me adoeceram. Peguei papéis e
transcrevi as partes mais marcantes para mim (meu marido está preocupado com a
minha sanidade mental há uma semana). Florentino Ariza tinha tanto amor por
Fermina Daza que precisava escrever. Como não podia escrever pra ela, ia ao
cais e escrevia cartas de amor pra quem estivesse precisando se declarar. Eu
achei que só poderia deixar O amor nos
tempos do cólera ir depois que eu escrevesse sobre ele. Alguma coisa,
qualquer coisa. Falar sobre o que as palavras causam de desejo é um dever.
Leiam! Para concluir, citarei uma frase do livro: “O coração tem mais quartos
que uma pensão de putas”.
Isloany
Machado, 05 de novembro de 2014.
Curtii!!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue delícia seu texto Isloany!!! Garcia Marquez é realmente inspirador! Obrigado por continuar nos presenteando com seus textos instigadores do nosso desejo de leitura. Grande abraço
ResponderExcluirSuas palavras são incrivelmente inspiradoras. Minha admiração por você só cresce! Lindo!!!
ResponderExcluirObrigada queridos, pelo carinho dos comentários!
ResponderExcluirAbraços
Isloany, que maravilha de texto! Otimas impressoes, obrigada por compartilhar! Amo Garcia Marquez. Queria te perguntar duas coisas, se voce souber / puder me informar. Sou estudante de Psicologia, faço analise e quero fazer a formaçao em Psicanalise tambem. Tenho grande interesse pelo tema acerca das impressoes subjetivas do analisando / paciente em relaçao a analise / terapia em sua vida. Voce saberia de algum relato assim, em forma de livro, video, qualquer coisa?
ResponderExcluirE segundo, uma amiga que tambem faz analise, me pediu uma indicaçao de algum livro, na otica psicanalitica, sobre dificuldade de se falar em sexo. Voce teria alguma indicaçao?
Agradeço desde ja, gosto muito do seu blog. Bj
Mari, obrigada pelo carinho!
ExcluirSobre a sua primeira pergunta, tem um livro que eu A-M-O que se chama Palavras por dizer, tem um comentário dele no blog (http://www.costurandopalavras.com.br/p/artigos.html). Tem um vídeo que aparecem alguns pacientes de Lacan falando como era a análise com ele (https://www.youtube.com/watch?v=S-QtbFaZjmw). Tem também um livro que se chama Trabalhando com Lacan, que eu gosto bastante.
Sobre a sua segunda pergunta eu não conheço nenhum sobre o tema, mas acho que na obra de Freud em geral ele fala disso bastante.
Abraços
Que texto inspirador, desejei ler o livro!!!
ResponderExcluir