Primo,
Quantas
vezes já te disse que, depois que você voou para o nunca mais, eu comecei a
escrever? Vou te contar certinho como foi. No dia em que recebi a notícia de
sua partida, eu estava lendo um livro da Clarice Lispector que se chama Água Viva. Sabe, é um livro que queima a
gente, porque a vida queima, a vida dói. E bem nos dias eu soube que você
decidiu ir embora. A literatura me ajuda a sarar as dores da vida, então, não
sei o que teria sido dos meus dias se não soubesse que a dor não era só minha.
Eu senti uma “solidão destampada”, termo de Manoel de Barros para dizer como é
a morte. Senti uma dor rasgada, mesmo que já estivesse longe de você há tempos.
Poxa, houve momentos que vivi com você que compuseram a música da minha vida.
Seu narigudo filho de uma mãe.