Além do olho torto, eu confesso que sempre tive o
ouvido torto também. Me explico. Desde criança sempre me ensinaram sobre
pecado, mas tinha alguma coisa que me incomodava. Depois que cresci, parei de
pensar nisso. Como se o peso do pecado tivesse se descolado de mim. Quando isso
acontece, somente assim, é que se pode rir dos pecados. Num dia qualquer, em um
diálogo qualquer, meu marido diz:
- Vou parar de tomar cerveja e só vou tomar vinho.
A cerveja me faz mal, o vinho faz bem.
Ao que eu respondi:
- Eu não vou mais tomar nada alcoólico. É pecado.
- Tomar vinho não é pecado! Sabia que já se tomava
vinho antes de Cristo?
Perguntei algo que me fazia questão na infância e
na adolescência:
- O que é pecado?
- Depende.
- Vamos fazer uma lista de pecados?
- Uma lista de pecados nossos ou de pecados
pecados?
- Nossa lista de pecados. Matar é pecado?
-É.
- Mas e matar a fome é pecado?
- Claro que não. Matar a fome é necessidade.
- Mas lá diz “Não matarás”! Não disse o quê. Então
não se poderia matar nada, nem a fome, nem a saudade.
- Tem razão. Pra mim, poluir é pecado.
- Depende. Poluir o quê? Os rios?
- Sim, pra mim isso é pecado. Poluir o meio
ambiente.
- E poluir a mente é pecado?
- Depende. Se você poluir a mente de alguém com
boas ideias, não é pecado.
- Roubar é pecado?
- Se você roubar o coração de alguém, não é não.
- Claro que é! Você já ouviu casos de pessoas que
namoram alguém só pra roubar o rim? Roubar o coração é pior, muito pior que
isso, porque os rins são dois e o coração é um só. Se você roubar o coração de
alguém, a pessoa morre. E matar é pecado. A não ser que seja matar a fome ou a
saudade, que daí é necessidade.
- Bem, também acho que desperdício é pecado.
- Acho que depende. Desperdício de comida é pecado.
Mas e desperdício de tempo é?
- É, com certeza é!
Então descobri que pecado é
relativo. Depende de quem peca, do que se peca, e das palavras. Ai as palavras!
Sempre as palavras atrapalhando meu discernimento. Como eu poderia obedecer aos
mandamentos? “Não matarás! Não roubarás! Não poluirás! Não desperdiçarás!”. A vida
não teria graça se não pudesse matar a saudade. Se não pudesse roubar beijos. Se
não pudesse poluir a mente. Se não pudesse desperdiçar tempo ou dinheiro.
Depois
que cheguei a esta conclusão, entendi que as palavras não me deixariam
acreditar totalmente em pecados, em céu e inferno. Pelo que fui salva.
Isloany Machado, 29 de julho de
2014.
Amém!!!
ResponderExcluirQue texto fantástico!
Simples e, ainda assim, muito foda!!
Obrigada Rafael!!!
ExcluirMuito legal o texto. Adorei
ResponderExcluirAdorei!
ResponderExcluirPerfeito! Estou amando o teu blog!!!
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