Meu
querido, feliz aniversário!!!
Hoje
faz um ano que você nasceu. Como passou rápido...ainda mais aqui de longe, sem
ver você crescer a cada dia. Toda vez que te vejo parece que tomou um pouquinho
mais de fermento. Será que eu estaria sendo muito repetitiva se dissesse que
estou com saudades? Eu já te disse o que é saudade? Acho que sim. Aliás, nesse
ano já te falei sobre tantas coisas né? Muitas vezes fiquei achando que fui
dura demais com você. Às vezes fiquei pensando que deveria ter inventado
histórias de contos de fadas para te poupar, prolongando mais tempo possível o
seu encontro com o real. Por isso tentei te dizer como que em conta-gotas, de
um jeito que não doesse tanto e que não fosse tão amargo.
Sabe
querido, ao mesmo tempo que esse um ano tenha passado rápido e pareça que ainda
é pouco o tempo que já viveu, na verdade você já viveu muitas coisas. Faça uma
retrospectiva. Você já esteve totalmente à mercê dos desejos do outro, quando
chorava pra tentar dizer que estava com fome, ou com sono, ou cagado...você só
conseguia chorar para demonstrar que havia um mal-estar. Depois começou a usar
seu corpo para dizer isso. Agora já consegue se negar a algo que não queira
fazer ou comer, mesmo que ainda não articule a palavra “não”. Henrique, isso
não é incrível??? Eu quase choro só de pensar!!! Você, tão pequenininho,
dizendo a qualquer preço os seus desejos. Independentemente de articulação
palavrética.
Henrique,
você sabe o que é desejo? Ora, como posso te explicar isso sem muita
embananação? Meu querido, isso é algo mesmo muito difícil de explicar, mas vou
tentar. Eu tentei ver num dicionário para te explicar, vou dizer o que está
escrito e depois falamos disso. “Termo empregado na filosofia, psicanálise e
psicologia para designar, ao mesmo tempo, a propensão, o anseio, a necessidade,
a cobiça ou apetite, isto é, qualquer forma de movimento em direção a um objeto
cuja atração espiritual, ou sexual é sentida pela alma e pelo corpo.”. Bem,
olha só, você já sabe o que é o apetite. É o mesmo que fome. Você sentia isso
mais ou menos a cada duas horas logo que nasceu, queria mamar! Pergunte à sua
mãe. Sentido apetite, seu movimento era no sentido de buscar o objeto de
satisfação: o leite/a comida.
Na
medida em que o tempo passa Henrique, a gente continua sentindo fome, mas
depois a fome não é só de comida. Depois de um tempo, “a gente não quer só
comida, a gente quer bebida (de preferência alcoólica), diversão e arte”; é a
letra de uma música. Querido, depois de um tempo, o buraco da fome, que já não
é fome, fica sempre oco e nada preenche de verdade. Nem leite. Mas veja, isso
não é ruim. Imagine só se você continuasse crescendo e, lá quando estivesse
grandão, não fizesse outra coisa a não ser chorar pedindo teta pra sua mãe?
Seria trágico, e muito cômico! Não se satisfazer só com leite é algo que nos
faz querer mais, desejar mais, mover o corpo em direção a outros objetos,
querer se arrastar no chão pra buscar algo, se agarrar às paredes para ficar em
pé, se tremer todo tentando andar sozinho pra pegar um objeto. Não é isso o que
você anda fazendo por aí? Sua mãe bem que me contou.
Chega
um tempo Henrique, em que a gente não quer mais ficar com a fralda esquentando
a bunda. E aí, como que subitamente, o que antes era um meneio de cabeça,
torna-se um sonoro NÃO! Em breve você sentirá esse sabor delicioso das
palavras. Saiba que muita gente engole a palavra “não” só pra continuar a
agradar e tentar satisfazer o desejo dos outros. Não caia nessa, querido! Mas
veja, como eu te disse, a “fome” fica cada vez maior. Quanto mais palavras a
gente sabe, mais a gente quer saber e mais a gente se esperneia por nossos
desejos, que sempre mudam também. Às vezes, mesmo depois de grandes, alcançar
um desejo é tão difícil que a gente precisa se agarrar nas paredes para não
cair, às vezes, a gente precisa chegar onde quer arrastando-nos no chão. Parece
bizarro né? Mas as coisas têm funcionado assim. Está muito difícil de entender
querido? Calma que tem mais.
Sabe
do que mais? Tem adultos que ficam correndo em círculos e não conseguem
alcançar o desejo. Porque isso tem um preço. Às vezes o que você deseja não é
algo que as outras pessoas acham legal, às vezes o que você deseja muda a vida
de muita gente. E aí é preciso bancar isso, é preciso pagar o preço. Muitas
vezes pagamos com a própria carne. Acredite. Quem dera que todos os problemas
da nossa vida fossem resolvidos com alguns mililitros de leite. Eu adoraria.
Mas não é possível voltar atrás. Quando você enfim começa a dizer o que deseja,
não dá pra voltar a usar fralda. O gosto de chegar perto do desejo é bom
Henrique! É como ficar exposto àquele solzinho gostoso que aparece somente
perto do meio-dia nos dias de inverno. Mas o Senhor Shakespeare dizia que o Sol
queima se você ficar exposto por muito tempo. Tome cuidado. Por isso muita
gente foge do desejo por medo de se machucar.
Como
dizia o Senhor Freud, viver não é fácil! Mas é delicioso. Comemore esse dia,
faça festa, logo logo as palavras coçarão sua língua e você vai ver que delícia
é o sabor que elas têm. E assuma sempre seu desejo, custe o que custar, mesmo
que sejam os cabelos brancos de sua mãe!
Beijos
da titia que te ama.
Isloany
Machado, 12 de Dezembro de 2013.
P.S.:
Não vejo a hora de ir à sua festa!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário