Desde
o dia 11 de setembro deste ano estou aprendendo a ser professora. Esta data é
um tanto catastrófica em nosso imaginário social, foi um dia marcado por ser
desastroso. Entretanto, não posso dizer que meu primeiro dia de aula, não mais
como aluna e sim como professora, tenha sido catastrófico. Tudo me leva a crer
que estou construindo minha identidade como professora. Devo confessar que
depois do primeiro dia de aula saí da Universidade meio que sem saber direito quem
eu era, nem para onde ia. Socraticamente pensei, só sei que nada sei. Então,
trata-se de um aprendizado. Desde este dia, já aprendi algumas coisas:
- Aprende-se
mais quando você é professor do que quando é aluno;
- A
democracia nem sempre é bem recebida por todos;
- Não
se agrada a israelenses e palestinos (melhor do que gregos e troianos);
- É
muito difícil saber o que está por trás do silêncio dos alunos (nunca se
sabe se estão gostando ou não da aula);
- Aprendi
que quando eu era aluna e tentava enganar um professor, ele só se fazia de
bobo;
- Mas
uma coisa inusitada que tenho aprendido é sobre a incrível relação
professor-garrafa de água.
Me explico. Todas as cinco coisas que
listei acima já eram mais ou menos previsíveis, algumas pessoas já tinham me
orientado de certa forma, mas ninguém nunca me disse que não há professor sem
garrafa de água (item 6 da lista). Esta ferramenta faz parte da estruturação
subjetiva do professor, muuuito mais do que o giz. Sem o giz, improvisa-se. Sem
o data-show, temos o texto em mãos, mas sem a água, beiramos a insanidade.
Quando a água está a menos de um dedo do fundo da garrafa e ainda tenho 30
minutos de aula, suores frios me percorrem o corpo, a pupila dilata, as mãos
iniciam uma tremedeira descompassada e incômoda. As vozes ao redor começam a
sumir, os rostos dos alunos começam a parecer distantes. Sinto que fico
parecendo um adolescente a mudar de voz. E então de repente eu só consigo
enxergar a garrafa do aluno que está na última fila, no fundo da sala. Ali está
uma garrafa quase cheia.
Deste modo, as garrafas de água passaram
a me perseguir. Um dia, ao chegar em casa, tomei banho e, ao abrir a gaveta
para buscar uma roupa limpa, havia duas garrafas de água, cheias. Não sei como
foram parar ali. No carro, há garrafas cheias e vazias por todo canto. Ameaça
de divórcio foi pronunciada porque garrafas se espalham por toda a casa. Não
sei mais o que fazer. Outro dia tentei “esquecer” uma delas no ponto de ônibus
e uma pessoa gritou: “Hei moça, esqueceu sua água!”. Ainda hoje, depois da
aula, fui almoçar e cheguei com a garrafa pela metade. Ao sair do restaurante,
livre daquele peso que deixara sobre a mesa, a garçonete esticou o pescoço e me
gritou: “Querida, olha aqui sua água, você esqueceu!”.
Então pude notar que isso não mais se
despregará de mim. A água amolece minha garganta, lubrifica minha voz
esganiçada, tira a rudeza das palavras que saem de minha boca, por vezes tão
pesadas, psicológicas. Ser professor não é dominar a técnica do “cuspe e giz”.
Ser professor é saber racionar o uso da água durante todo o tempo da aula, pois
sem água não há dignidade possível.
Isloany
Machado, 27/09/2013.
adorei
ResponderExcluirprincipalmente esse:
Aprendi que quando eu era aluna e tentava enganar um professor, ele só se fazia de bobo;
e da agua kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
bjs linda
;)
ExcluirAi Islo, vc é impagável rs..A minha primeira experiência como professora no Ensino Superior tb foi hilária ou uma incógnita, sei lá, a gente sai meio sem saber mesmo..O que me faz ter a certeza de que vai se apaixonar (se já não estiver apaixonada) é que você é do tipo que se doa e isso faz com que as pessoas confiem e se abram pra você- e se apaixonem também! Aí acontece o aprendizado..
ResponderExcluirkkkkkkkkkk mto bom!!! Interessante que você fala da água enquanto possibilidade de abertura dessa via de identificação docente, um fazer de garganta, fazer de corpo, às avessas do discurso que identifica essa via ao todo-saber, ao ideativo e ao pensamento. Sortudos alunos! Têm uma professora acostumada a profissões impossíveis ... rsrsrs ... Abraço.
ResponderExcluirQueridos Zélia e Carlos, vocês não sabem que bem me faz esse carinho aqui neste espaço que é só meu...onde eu posso escrever meus devaneios, onde só entra quem está a fim de me ler...abraço imenso para vocês. ;)
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