
Olhava o palhaço e estava
convicto de que havia algo de errado ali. Seus pais sentaram-se com ele na
primeira fileira do circo, de modo que pôde olhar cada detalhe. Era a primeira
vez que via um palhaço tão de perto, na verdade aquela figura sempre lhe
causara uma espécie de medo inexplicado, daqueles que chamam fobia. Ninguém
entendia como uma criança podia ter um medo assim de um palhaço, uma figura que
só quer fazer rir. Sentia-se idiota por ter tanto medo. Evitava qualquer
contato. Quando o carro de som passava anunciando a chegada do circo,
escondia-se embaixo da cama durante horas. Seus pais insistiam em levá-lo, pois
acreditavam que um homem precisa enfrentar seus medos desde sempre. Encolhia-se
entre as pernas da mãe e virava o rosto diante da aparição da figura
tragicômica, sentia o peito pular sob a camisa xadrez preferida dele.