Nunca
gostei muito das histórias de super-heróis, mas às vezes, para ter companhia do
marido nos filmes românticos, dramáticos e cults, a gente acaba aprendendo a
gostar de fazer companhia nos filmes de ação, aventura, ficção científica, etc.
Os super-heróis passaram a fazer parte da minha vida dessa forma, não que eu
nunca tenha ouvido falar deles, mas nunca dei muita importância. A única coisa
que eu sabia sobre eles era o quão imbatíveis, invencíveis e corajosos eles
são. Pelo menos eram durante nossa infância, ou melhor, eram até outro dia. Me lembro
que há alguns anos assistimos um do super-homem cujo cabelo sequer despenteava
enquanto ele voava no infinito. Mesmo com todos os conflitos de um Clark Kent,
os super-heróis bancavam as próprias armaduras. Havia um momento em que o medo
do humano era absolutamente substituído pela couraça da roupa heróica.
Mas
eis que agora os super-heróis estão demasiadamente humanos. Me explico. O
batman tem problemas no joelho e perdeu toda a sua riqueza; o lanterna verde
quase é dominado pelo medo e falta pouco pra desistir de enfrentar seu inimigo;
o que mais ameaça o super-homem passa longe de ser a criptonita, são as
perguntas existenciais: “quem sou eu?”, “de onde eu vim?”, “que querem de mim?”.
O homem de ferro, o terceiro, tem “crises de ansiedade” paralisantes, quase
pânico e, ao descobrir o diagnóstico, pergunta: “Crise de ansiedade, EU?”. Será
que os super-heróis estão demasiado humanos ou será que fomos nós que crescemos?
Será que a lógica do inconsciente chegou ao mundo dos super-heróis? De certa
forma, eles sempre foram sujeitos divididos, com pé na humanidade e outro no
heroísmo. O pé na humanidade os fazia se apaixonarem, terem um aspecto de
insegurança, que era suplantado pela armadura. O pé no heroísmo os fazia voar,
seja porque tinham super-poderes ou dinheiro para construir seus próprios
recursos para tal. O lado humano tinha lá suas inseguranças, mas o herói não. O
herói levava a mocinha pra voar.
Poderíamos
pensar que o herói era o “ego forte”, mas parece que a lógica freudiana de um
ego que não é senhor em sua própria morada invadiu o mundo dos super-heróis. Ou
será que fomos nós que crescemos demais? Talvez os homens de ferro já não
tenham medo de mostrar suas fraquezas, de dizer que estão fora do controle. Que
o timoneiro da embarcação é outro, mas não outro fora, e sim outro de si. O
medo está ficando cada vez mais líquido, e está difícil de aprender a nadar
porque o líquido é espesso, tal como aquele que gruda no homem aranha em um dos
filmes. Por falar em homem aranha, o último que assisti mostrou um adolescente
rebelde, bem diferente dos outros com aquela timidez escondida sob os óculos.
Demasiado humano. Super-heróis são homens de ferro, pero no mucho. “Somos feitos de carne, mas às vezes temos que viver
como se fôssemos de ferro” (Sigmund Freud). Os super-heróis estão em crise.
Nossos super-heróis estão ficando cada vez mais parecidos conosco. Ou será que
fomos nós que crescemos?
Isloany
Machado, 28 de abril de 2013.
Que descortinada! Muito Bom o texto.
ResponderExcluirObrigada Daniele!
ExcluirIsso existe desde sempre, pelo menos na Marvel, o IronMan 3 tem raízes na saga Demon in a Bottle de 1979, Batman dos cinemas vem de histórias de 1986, Lanterna Verde existiram vários Hail Jordan sempre foi mais humano por ter caído de paraquedas na função e SuperMan sempre se questionou por ser o único (por muito tempo) membro de sua raça, sobre suas origens e seu destino, bem para quem lê as histórias, não há nada de incomum na abordagem do cinema, elas até são leves demais.
ResponderExcluirNamastê
Então vai ver que fui eu que cresci...
ExcluirQue isso, só descobrirmos que a vida muitas vezes imita a arte, se ler a saga de Thanos, vai ver um vilão super inteligente, que antes de rivalizar na força bruta, coloca os heróis contra seus piores medos e fraquezas, essa é a maravilha que os roteiristas conseguiram imprimir, uma grande ameaça cósmica que usa nossa própria humanidade contra nós.
Excluirparabéns por seus textos são excelentes, diria que a leitura é como velejar por novos mares
Namastê