Senhorita aranha
precisava de uma casa, já estava bem grandinha e decidira sair da moradia da
família. Escolheu um bom lugar, sem excesso e nem falta de luz. Esta senhorita
nascera com um defeito que fazia toda a diferença em sua vida: não podia fazer
teia porque não podia produzir fios. Como poderia fazer sua casa então? Com
toda a inteligência que lhe era possível, senhorita aranha pegou essa primeira
frase “como vou fazer minha casa?” e lançou de um lado a outro. Pronto, sua
ideia dera certo. Tudo o que tinha em mãos eram as frases que dizia, e resolveu
usá-las para construir sua casa.
Lançada a primeira
frase, agora ela só precisava montar a teia. Senhorita aranha lembrou-se de uma
cena de sua infância e falou: “a mamãe é só minha!”. Pegou em seguida e lançou
sobre a outra frase. Pensou mais uma: “você não sabe fazer teia”. Foi jogando
uma sobre a outra numa verdadeira chuva de frases. “Não era pra você ter
nascido, sua feia”; “você pode ser o que quiser”; “por que você está
chorando?”; “você vai sair de casa?”; “tem certeza disso?”; “eu acho que não
vai dar conta”; “ahahahaha, vai morar embaixo da ponte”; “uau, como você é
linda”; “se não fosse tão cascudo, eu ia querer namorar você”; “não sabe fazer
teia, mas é bonitinha”; “que aranha exótica”.
E assim, senhorita
aranha construiu sua casa. Algumas palavras que ela usou se entrecruzaram em
diversas frases. Eram pontos de nó nos quais ela sempre tropeçava, mas davam
firmeza para a estrutura como um todo. Havia também os buracos, como em toda
teia. Às vezes admirava-se com sua construção. Ela queria mesmo era ter feito
uma teia que se parecesse um tecido mais fechado, em que se sentisse mais
segura para caminhar sem correr o risco de cair nos vãos. Então ela falava,
falava, falava, tentando aperfeiçoar sua casa e eliminar os buracos, mas o que
ela percebia era que eles estavam sempre lá, por mais que ela falasse e
lançasse as muitas frases.
Com o tempo, senhorita
aranha, que não era boba nem nada, percebeu que uma teia assim com espaços
estre frases e outras também capturava mais facilmente seu alimento.
Acomodou-se melhor em sua teia ao perceber que sem os buracos não poderia
sustentar-se.
Isloany Machado, 23 de maio de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário